terça-feira, 27 de outubro de 2009







CARACTERISTICAS E CONTEXTO






O barroco apareceu no Brasil quando já se haviam passado cerca de cem anos de presença colonizadora no território; a população já se multiplicava nas primeiras vilas e alguma cultura autóctone já lançara sementes. O barroco não foi, assim, o veículo inaugural da cultura brasileira, mas floresceu ao longo da maior parte de sua curta história "oficial" de 500 anos, num período em que os residentes lutavam por estabelecer uma economia auto-sustentável - contra uma natureza selvagem e povos indígenas nem sempre amigáveis - até onde permitisse sua condição de colônia pesadamente explorada pela metrópole. O território conquistado se expandia em passos largos para o interior do continente, a população de origem lusa ainda mal enraizada no litoral estava em constante estado de alerta contra os ataques de índios pelo interior e piratas por mar, e nesta sociedade em trabalhos de fundação se instaurou a escravatura como base da força produtivaNasceu o barroco, pois, num terreno em luta, certamente com muito sofrimento e incerteza nos longos séculos de construção de um novo e imenso país, mas também com muita paixão, coragem e religiosidade, e não menos deslumbramento diante da paisagem magnífica, sentimento que foi declarado pelos colonizadores desde início [2]. Sendo uma corrente estética e espiritual cuja vida está no contraste, no drama, no excesso, talvez mesmo por isso pôde espelhar a magnitude continental da empreitada colonizadora deixando um conjunto de obras-primas igualmente monumental. O barroco, então, confunde-se com, ou dá forma a, uma larga porção da identidade e do passado nacionais; já foi chamado de a alma do Brasil [3]. Significativa parte desta herança em arte, tradições e arquitetura hoje é Patrimônio da Humanidade.O barroco no Brasil foi formado por uma complexa teia de influências européias e locais, embora em geral coloridas pela interpretação portuguesa do estilo. É preciso lembrar que o contexto econômico em que o barroco se desenvolveu na colônia era completamente diverso daquele que lhe dava origem na Europa. Aqui o ambiente era de pobreza e escassez, com tudo ainda por fazer. Por isso o barroco brasileiro já foi acusado de pobreza e incompetência [4] quando comparado com o barroco europeu, de caráter erudito, cortesão, sofisticado e sobretudo branco, apesar de todo ouro nas igrejas, pois muita coisa é de execução tecnicamente tosca, feita por mão escrava ou morena. Mas esse rosto impuro, mestiço, é que o torna tão único e inestimável.
Também é preciso assinalar que o barroco se enraizou no Brasil com certo atraso em relação à Europa, e este descompasso, que se perpetuou por toda sua trajetória, por vezes ajudou a mesclar, de forma imprevista e deliciosa, elementos estilísticos que se desenvolviam localmente com outros externos mais atualizados que estavam em constante importação. Os religiosos ativos no país, muitos deles literatos, arquitetos, pintores e escultores, e oriundos de diversos países, contribuíram para esta complexidade trazendo sua variada formação, que receberam em países como Espanha, Itália e França, além do próprio Portugal. O contato com o oriente, via Portugal e as companhias navegadoras de comércio internacional, também deixou sua marca visível nas chinoiseries que se encontram ocasionalmente nas decorações e nas raras estatuetas em marfim remanescentes.
Como exceção interessantíssima, a mão indígena é perceptível em obras de arte realizadas exclusivamente por índios ou em colaboração com os padres catequistas, fenômeno ocorrido no âmbito das Reduções jesuíticas do sul e em casos pontuais no Nordeste. Por fim, mas não menos importante, está o elemento popular e inculto, tantas vezes naïf, evidente em boa parte da produção local, já que os artistas com preparo sólido eram poucos e os artesãos autodidatas ou com pouco estudo eram a maioria do criadores, pelo menos nos primeiros dois séculos de colonização. Neste cadinho de tendências são detectados até elementos de estilos já obsoletos como o gótico em fases tardias como o fim do século XVIII, na obra de mestres como o Aleijadinho.

Religiosidade

Assim como em outras partes do mundo onde existiu, o barroco foi no Brasil um estilo movido pela inspiração religiosa, mas ao mesmo tempo de enorme ênfase na sensorialidade e na opulência dos materiais e formas, num acordo tácito e ambíguo entre glória espiritual e êxtase carnal. Este pacto, quando as condições permitiram, criou algumas obras de arte de enorme complexidade formal, que faz-nos admirar a perícia do artesão e a inventividade do projetista - amiúde anônimos. Basta uma entrada num dos templos principais do barroco brasileiro, seja em Minas, seja em Salvador, para os olhos de pronto se perderem num quebra-cabeças de formas e cores, onde as imagens dos santos são emolduradas por esplendores, cariátides, anjos, guirlandas, colunas e entalhes em volume tal que não deixam um palmo quadrado de espaço à vista sem intervenção decorativa, num luxo prodigamente materialista onde foi gasto muito ouro. Como disse Germain Bazin, ”para o homem deste tempo, tudo é espetáculo" [5].

4 comentários:

  1. KAROLINE:CADA OBRA REPRESENTA UM SENTIMEMTO NO MINHA OPINIÃO...

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  2. CHRISTIANE: BARROCO NO BRASIL FOIV UM Assim como em outras partes do mundo onde existiu, o barroco foi no Brasil um estilo movido pela inspiração religiosa, mas ao mesmo tempo de enorme ênfase na sensorialidade e na opulência dos materiais e formas, num acordo tácito e ambíguo entre glória espiritual expandia em passos largos para o interior do continente, a população de origem lusa ainda mal enraizada no litoral estava em constante estado de alerta contra os ataques...

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  3. karoline:O barroco apareceu no Brasil quando já se haviam passado cerca de cem anos de presença colonizadora no território; a população já se multiplicava nas primeiras vilas e alguma cultura autóctone já lançara sementes.

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  4. JAQUELINE:O barroco não foi, assim, o veículo inaugural da cultura brasileira, mas floresceu ao longo da maior parte de sua curta história "oficial" de 500 anos, num período em que os residentes lutavam por estabelecer uma economia auto-sustentável - contra uma natureza selvagem e povos indígenas nem sempre amigáveis - até onde permitisse sua condição de colônia pesadamente explorada pela metrópole.

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